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PEDRO ÁVILA: UMA APOSTA NA INTUIÇÃO

Atualizado: 22 de jan.

Texto: Deborah Couto


Pedro Ávila é um dos expoentes do design autoral brasileiro, um título dificílimo de conseguir. Superjovem, ele foi citado pela publicação Forbes em 2020 como um dos profissionais “Under 30” de destaque do ano. O patamar atingido vem de uma trajetória que envolve formação e experiência — Pedro se formou em desenho industrial pelo Senac SP em 2012 e se especializou em escultura, modelagem e fundição pela Central Saint Martins em 2019. Em 2015 começou a apresentar seu trabalho criativo junto ao @estúdioorth, do qual é cofundador e também fez parte da @nodacozinha, um coletivo que faz curadoria e desenvolve objetos utilitários e de outras iniciativas coletivas — mas também de coragem para materializar os próprios desejos. Foi caminhando sozinho e investindo nas criações autorais que seu trabalho conquistou o reconhecimento que tem hoje. 



Pedro recebeu a Iguaria para essa entrevista no seu ateliê em São Paulo.



A técnica da assemblagem aplicada ao design de produto é o norte que guia o desenvolvimento artístico de Pedro, que cria objetos utilitários, que também são esculturas, e vice-versa. Sua visão traz sempre uma narrativa para as criações e curadorias que executa, o que se revela uma tendência contemporânea: a importância da história contada sobre a exibição do objeto em si. É esse domínio da narrativa, além da técnica e da escolha minuciosa dos materiais, que eleva seu trabalho ao status de arte. Pedro tem um apreço pelas formas orgânicas, com referências naturais, o que aplica a técnicas de modelagem direta, como cerâmica, escultura em madeira, modelagem 3D, fundição de metal, usinagem de pedra e moldes de fibra. Isso faz com que seus horizontes estejam sempre sendo expandidos. 



Peças da série ‘Satélite’, que propõe um olhar poético sobre o imaginário popular em relação ao universo e a ciência da cosmologia. 



O designer conta, nessa entrevista, um pouco mais sobre sua trajetória, processo criativo, e fala das glórias e dificuldades de ser um designer autoral no Brasil. 


 

FALE UM POUCO DA SUA HISTÓRIA NO DESIGN, SUAS INSPIRAÇÕES E REFERÊNCIAS


Sou natural de Brasília e carrego uma influência regional que traz os elementos de misticismo para minha história criativa. Pouca gente conhece esse lado da capital, mas por sua proximidade com Alto Paraíso, essa atmosfera mística, meio hippie, também faz parte da história cultural da cidade. Foi essa bagagem que eu trouxe para a coleção “Cristais”, desenvolvida junto com o Estúdio Orth (fundado por Pedro em sociedade com Seba Orth e Luísa Bianchetti), cujo destaque está em luminárias que têm o cristal como filtro da luz. Quando criamos essa coleção, era um momento em que as luzes incandescentes foram proibidas no país. Então utilizamos das pedras para deixar a luz de LED menos dura. 


Explorei, ainda, bastante o sincretismo religioso brasileiro no meu trabalho, sempre buscando criar uma atmosfera natural, com sensação de casa de praia. Procuro elementos de doutrinas religiosas, como a Umbanda e Candomblé, ou o Vale do Amanhecer (movimento religioso criado na região de Brasília), mas sempre com uma visão estética, porque eu e Seba somos muito céticos, então nunca quisemos imprimir um caráter de fato religioso nas peças. É um “ladygaguismo”. Gosto de brincar com coisas que beiram o cafona, porque é delas que saem minhas inspirações mais corajosas. Seba vem de uma região da França, a Córsega, em que essa cultura mística, praiana e natural também se faz muito presente. 



Trabalhos produzidos por Pedro no Estudio Orth.



Depois que saí do estúdio busquei encontrar uma marca pessoal que me descolasse um pouco da história já contada mas que, de certa forma, me mantivesse conectado a ela. Então comecei a abandonar os códigos do misticismo para explorar os códigos da ciência. Daí surgiram as coleções “Raios”, “Π” e “Cavas”. Foi um processo criativo mais solitário e árduo, em que busquei valorizar o erro como parte da trajetória estética/poética, pois é também o erro que traz o caráter autoral para cada peça e que a torna única. Coisa que não vemos no design industrial. 



Poltrona 'Colo', coleção Π | Mesa de centro 'Veras', coleção Π | Mesa lateral 'Garra', coleção Raios



FALE UM POUCO DO PANORAMA DO DESIGN AUTORAL BRASILEIRO ATUAL E SUA RELAÇÃO COM O PASSADO


Dos anos de 1960 a 80 houve um “boom" do modernismo por aqui. Era uma tradução da Bauhaus para a cultura brasileira. Então tivemos nomes importantes no design de produtos, como Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Jorge Zalszupin, Percival Lafer, Sérgio Rodrigues… Eles fizeram essa coisa mais racional, com formas leves, madeira maciça (espécies que hoje estão extintas) que era valorizada na época. Depois dessa geração não tivemos nomes relevantes até os irmãos Campana, que já não faziam um design brasileiro, mas internacional, com um viés mais artístico. De fato, o sucesso comercial do design autoral brasileiro é difícil de ser sustentado. Constantemente precisamos de um trabalho em paralelo com o design industrial, mais limitante. Isso faz com que os artistas fiquem, de certa forma, “tímidos”, menos ousados em seus trabalhos. Atualmente o design de objetos brasileiro está retomando esse viés artístico, exclusivo. Os artistas e estúdios atuais vêm investindo em peças colecionáveis, únicas e autorais. Hoje há nomes como Estúdio Rain e Lucas Recchia que atingira o sucesso com linguagens próprias.


Eu gosto muito de revisitar a estética do passado (brutalista, modernista), meu trabalho dialoga com o que foi feito ali. Sou adepto do Retrofuturismo e gosto de ter a obra desses artistas como inspiração. Lafer, por exemplo, criava ambientes com uma atmosfera do que interpretava que seria o futuro (essa ideia meio “Jetsons”), porém esse futuro nunca aconteceu. Isso é uma enorme fonte de inspiração para o meu trabalho. [Percival Lafer conhece e aprecia o trabalho de Pedro e já esteve em seu estúdio]. 



COMO É A VIDA DE UM DESIGNER AUTORAL INDEPENDENTE NO BRASIL?


Nós, artistas independentes, conseguimos criar uma rede de apoio em que participamos das ações uns dos outros, sincronizamos lançamentos, abrimos os estúdios a visitação simultaneamente, para que a rua fique mais segura para os visitantes [grande parte desses estúdios se encontra na Barra Funda, antigo bairro industrial de São Paulo]. 


Eu gosto de trabalhar com base em minhas inspirações, não funciono muito bem por briefing, mas esse trabalho só é possível de ser realizado em paralelo a um design industrial que faça essa engrenagem ser viável. Então minha criação autoral funciona como vitrine para que eu possa atuar também na indústria. É como se para a indústria eu fizesse a t-shirt básica, à prova de erros, e tivesse em meu trabalho autoral esses “ladygaguismos”, que são minha marca. 


Além disso eu trabalho com outros artistas e com curadoria. Também procuro ter um conhecimento profundo dos fornecedores. O design autoral no Brasil hoje tem muito a ver com a narrativa em torno de uma peça, mais do que com a peça em si. Por isso a coletividade e o trabalho de curadoria são muito importantes. A forma como o produto é apresentado às vezes é mais relevante que o próprio produto. Essa é uma forma de educar o grande público, tanto com as peças mais acessíveis quanto com itens mais exclusivos. 




PEÇAS A SEREM DESTACADAS


Poltrona Colo



Parte da coleção “Π", primeira leva de criações em projeto solo de Pedro, a poltrona Colo é feita em pó de mármore e tem formas arredondadas e orgânicas, que remetem realmente a um “colo de pai”, como descreve o próprio criador. 


Coleção Raios



Criados em madeira maciça, a coleção Raios se inspira nesse fenômeno da natureza, mas não por acaso. Pedro conta que quando estava idealizando a série pensava em executá-la com madeira maciça, mas não tinha recursos financeiros para isso. Um dia um raio caiu na casa de uma cliente derrubando algumas árvores. Isso fez com que o designer pudesse utilizar aquela madeira como matéria-prima para desenvolver a coleção. “O Brasil é o país com maior incidência de raios no mundo e esse dado por si só já traz a cultura do país para a criação”. Pedro conta que, para essa coleção, também se inspirou no trabalho do artista visual baiano Rubem Valentim e que o fato de a madeira ter essa origem faz com que a série só seja viável de forma autoral, pois possui rachaduras e erros que jamais seriam tolerados no design industrial. 


Coleção Cristais



Desenvolvida pelo Estúdio Orth, a coleção cristais se inspira no misticismo dessas pedras para usá-las como matéria-prima em luminárias, de maneira que elas filtrem a luz e tragam sua energia para o ambiente. Isso faz com que a “calma" se traduza para a atmosfera do local. 


Mesa Lava



A mesa lateral “Lava" faz parte da coleção “Satellite”, que explora o fascínio do homem pelo espaço, desde as revelações de Galileu até os avanços atuais. Com formas arredondadas, a peça é esculpida em pedra-sabão e tem referência nas formas orgânicas criadas pela lava de um vulcão. 



 
 
 

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